DESTAQUE SBCOC

 

Esse texto está repleto de emoção

Por Flávio França

Quando fui procurado pelos amigos Luis Alfredo e Flávio França para escrever um artigo para o Jornal da SBCOC em homenagem a meu amado pai, fui tomado por emoção e saudade.

Meu pai, Carlos Alberto Petersen de Sant’Anna, nasceu em Salvador no ano de 1944, em 1968 formou-se médico na primeira faculdade de medicina do Brasil, a Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia. Especializou-se em Ortopedia e Traumatologia no ano seguinte no IOT-SP, onde morou como interno no HC. Retornando a Bahia, trabalhou em diversos Serviços de Ortopedia de Salvador.

Teve na sua vida profissional uma grande paixão pelo ensino, atuou como professor da graduação e preceptor da Residência Médica de Ortopedia e Traumatologia do Hospital Universitário Professor Edgard Santos HUPES – Universidade Federal da Bahia, onde contribuiu na formação de inúmeros médicos e ortopedistas em Salvador.

Relativamente tímido, tinha riso muito fácil, humor fino e requintado, não era de tantas palavras, mas, sempre que as expressava, eram palavras positivas e de equilíbrio.

Gostava de sambas, da fazenda, de viagens, tocava pandeiro, jogava muito bem futebol, adorava os encontros em família.

Por quase 30 anos estivemos juntos, quase que diuturnamente, em cirurgias, consultório e congressos. Foram anos de grandes aprendizados e lições para mim. Ele sempre escutava e examinava detalhadamente todos os pacientes. Tinha uma celebre frase, “temos que fazer não apenas ortopedia, mas fazer psico ortopedia”. Me ensinou valores que jamais serão esquecidos: ética, respeito e fino trato a todos.

Foi um dos pioneiros na cirurgia de ombro da Bahia, criou o ambulatório de cirurgia de ombro e cotovelo do HUPES, iniciado em 1992, onde permaneceu até a sua aposentadoria.

Tinha grande admiração pelo Professor Arnaldo, com quem sempre procurava um dedo de prosa nos congressos.

Àqueles que começaram mais ou menos na mesma época que ele, nos primórdios da SBCOC, ele tinha profunda admiração, carinho e respeito.

Teve a honra e enorme alegria de presidir e participar da comissão de alguns congressos da SBCOC. Como ele se divertiu e viveu intensamente esses momentos.

Realizou um sonho de conhecer “in loco” o Dr. Gilles Walch, no ano de 2002, ao me visitar em Lyon, enquanto estagiava na Saint Anne Lumiere. Lembro-me da sua reação: surpreso, nervoso e com uma alegria radiante quando Dr. Walch, de forma extremamente gentil e inesperada, pediu para ele entrar em campo para ajudá-lo na cirurgia. Se encantou com a habilidade do professor e sempre relembrávamos esse dia.

Fomos a inúmeros congressos juntos. Em nosso primeiro mundial de ombro em 2004, em Washington, teve a oportunidade de conhecer Dr. Neer e Dr. Fukuda no último mundial de ambos, além de outros grandes expoentes, Drs. Gerber, Cofield e Flatow, lendas da cirurgia de ombro que aprendemos a admirar pelas suas publicações. Isso o marcou muito.

Esteve na ativa até 2016, quando foi acometido pelo mal de Alzheimer, que o tirou da assistência. Foram seis anos que nos aproximamos ainda mais como família.

Em 2018, recebeu medalha de 50 anos de atividade profissional sem qualquer infração ética pelo Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia. Em 2019, recebeu da SBOT Bahia a medalha Benjamin Salles pelos relevantes serviços prestados a Ortopedia Baiana, na gestão do Dr. Rogerio Barros e com a presença de toda diretoria da SBCOC na Bahia durante a solenidade.

Enfim, julho de 2022 chegou e ele partiu. Mais precisamente, no dia 25 de julho tivemos que nos despedir. Eu e minhas irmãs, os quatro netos, genro, nora e minha mãe, com quem conviveu desde a juventude, por quase 60 anos, recebemos inúmeras, incontáveis manifestações de carinho que abrandaram a nossa tristeza e saudade. Vimos o quanto ele era amado.

Meu muito obrigado à Diretoria da SBCOC por prestar essa homenagem ao meu amado e saudoso pai.

Carlos Sant’Anna Filho

 

Medalha Benjamin Salles (2019)

Washington com Fukuda e Hamada (2004)

Lyon, França (2002)