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TRATAMENTO DA LUXAÇÃO GLENOUMERAL ÂNTERO INFERIOR ATRAVÉS DA ESTABILIZAÇÃO ANTERIOR DINÂMICA COM O CABO LONGO DO BÍCPES Dr. Luciano Pascarelli |
A instabilidade traumática crônica é uma patologia comum da articulação glenoumeral. Na presença de defeito ósseo da glenóide, acima de 13% a técnica de bloqueio ósseo é o método de escolha. Nos casos de defeitos ósseos abaixo, 13% a indicação ainda é controversa. Mesmo as transferências ósseas sendo consideradas ideais, o risco de complicação ainda é alto, variando de 16 a 30% segundo a literatura. As mais frequentes são relacionadas ao posicionamento do enxerto e dos parafusos. Já o reparo isolado de Bankart (preferido nos casos sem perda óssea) aumenta em 2 vezes o risco de nova luxação. Uma alternativa para estes casos que geram dúvidas, a estabilização anterior dinâmica é uma técnica relativamente nova que se utiliza de um mecanismo triplo de estabilização como o procedimento de latarjet, porém sem a transferência óssea. Esta técnica, que envolve somente tecidos moles, é exclusivamente artroscopia para a realização, o cabo longo do bíceps é utilizado para promover o efeito sling, estabilização dinâmica através da transposição subescapular com uma plastia simultânea do labrum anterior e suspensão dos ligamentos. Portanto, em pacientes com perda óssea mínima da glenóide, esta técnica tem vantagens sobre o latarjet artroscópico, criando o mecanismo triplo de estabilização (efeito bumper, retensionamento ligamentar e labial e efeito sling) com menor risco de complicações. Anatomia normal do ombro Cirurgia de Latarjet Estabilização dinâmica com bíceps Dynamic Anterior Stabilization Using the Long Head of the Biceps for Anteroinferior Glenohumeral Instability Published: December 18, 2017 Arthroscopy Technics
Existem algumas técnicas para a realização deste procedimento e o tendão do bíceps pode ser fixado através de túnel ósseo ou fixação com âncoras. Collin et al em 2017 e Garcia et al em 2019 (grupo NAEON) descrevem a técnica com a utilização de parafusos de interferência e túnel ósseo (fixação inlay). Milenin et al em 2019 e Azevedo em 2023 utilizam âncoras para a fixação do tendão do bíceps sobre a cortical anterior da glenóide (fixação onlay). Na descrição da técnica, todos os autores fazem os procedimentos com o paciente em cadeira de praia sob anestesia geral. Portais convencionais são realizados sendo basicamente o posterior, anterior e ântero lateral. Com a introdução do videoartroscópio é realizado o inventário articular, avaliado a presença ou não da lesão de hill sachs e se existe a presença de “engagement”. Na presença de uma lesão significativa pode ser programado o remplissage no mesmo procedimento. A cabeça longa do bíceps é identificada e então é realizado a liberação do ligamento transverso e consequentemente a mobilização do tendão para fora do sulco bicipital. Nos casos de utilização do parafuso de interferência, o tendão do bíceps é externado e realizado a sutura do tipo Krakow (Collin e Garcia). Através do Split no subescapular um fio guia é posicionado para a realização do túnel na borda anterior da glenóide e o parafuso de interferência é passado e assim fixado o tendão na glenóide. Já nos casos de fixação com âncoras (Milenin e Azevedo), é realizado o desbridamento anterior do lábio glenoidal e duas âncoras (com 2 fios de sutura) são colocados às 4 e 5hs na borda anterior da glenóide. Os fios de sutura são passados através do Split do subescapular e posteriormente pelo bíceps . Uma sutura do tipo duplo pulley é realizada no bíceps e então feito a tenotomia. Os fios remanescentes sobre tendão são tensionados e o mesmo é suturado na borda anterior da glenóide passando pelo split do subescapular . Cabeça longa do tendão do bíceps transferido através do subescapular e fixado com 3 âncoras paralelamente a glenóide. Arthrosc Tech. 2019 May; 8(5): e507–e512. Published online 2019 Apr 26. doi: 10.1016/j.eats.2019.01.010 Labral Repair Augmentation by Labroplasty and Simultaneous Trans-Subscapular Transposition of the Long Head of the Biceps Oleg Milenin, M.D.a,∗ and Bruno Toussaint, M.D.b Fixação do tendão da cabeça longa do bíceps com uma âncora knotless e passagem de tapes para fixação do lábio e tendão conjuntamente. Arthrosc Tech. 2019 May; 8(5): e507–e512. Published online 2019 Apr 26. doi: 10.1016/j.eats.2019.01.010 Labral Repair Augmentation by Labroplasty and Simultaneous Trans-Subscapular Transposition of the Long Head of the Biceps Oleg Milenin, M.D.a,∗ and Bruno Toussaint, M.D.b Após a fixação do bíceps uma terceira âncora é posicionada e assim o lábio glenoidal e a cápsula articular são suturados e reinseridos (ambas as técnicas). O pós-operatório é realizado com tipoia simples por 3 a 4 semanas quando são iniciados os movimentos passivos de 0 a noventa graus e de rotação interna e externa de zero a neutro. Após seis semanas exercícios são aumentados e a rotação externa em abdução é evitado até 3 meses. No estudo de Collin não é reportado complicações do cabo longo do bíceps.Todos os estudos mostram que a estabilização dinâmica é um procedimento seguro porque tem baixa recorrência em pacientes sem hiperlascidão e com perda óssea menor de 20%. Não mostrou complicações neurológicas e não teve evidência de discinesia escapular. Ainda é uma técnica com poucos casos avaliados e precisa ser mais estudada. Bibliografia Collin P. Lädermann A. Dynamic anterior stabilization using the long head of the biceps for anteroinferior glenohumeral instability. Arthrosc Tech. 2018; 7: e39-e44 Garcia Jr., J.C. Belchior R.J. Mello M.B.D. Cardoso Jr., A.M. The long head of the biceps Bristow-Bankart procedure for anterior shoulder instability. Arthrosc Tech. 2019; 8: e1185-e1191 Milenin O. Toussaint B Labral Repair Augmentation by Labroplasty and Simultaneous Trans-Subscapular Transposition of the Long Head of the Biceps Arthrosc Sports Med Rehabil Azevedo C de C., Angelo AC Onlay Dynamic Anterior Stabilization With Biceps Transfer for the Treatment of Anterior Glenohumeral Instability Produces Good Clinical Outcomes and Successful Healing at a Minimum 1 Year of Follow-Up Clara de Campos Azevedo 1 2, Ana Catarina Ângelo Arthrosc Tech. 2019 May; 8(5): e507–e512. |
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