Artigo

 

Resultados cirúrgicos e complicações após reconstrução do tendão distal do Bíceps: uma revisão sistemática e meta-análise

Dr. Mauricio Sgarbi

Litowski ML, Purnell J, Hildebrand KA, Bois AJ, Surgical Outcomes and Complications following Distal Biceps Tendon Reconstruction: A Systematic Review and Meta-analysis., JSES International (2020) JSES int. 2020 Oct 31;5(1):24-30

A literatura e a prática clínica apontam que o tratamento não cirúrgico das lesões crônicas do bíceps distal estão associadas com dores, cãibras, perda de força muscular e insatisfação para atividades com maior demanda muscular. As técnicas cirúrgicas para reconstrução são baseadas em utilização de enxerto autólogo (ex: semitendíneo) ou homólogo (ex: tendão calcâneo). Na revisão sistemática apresentada (os autores concluíram ser a primeira sobre o tema), formas de enxertia e métodos de fixação do enxerto foram comparadas.

Sobre os métodos, 24 estudos, englobando 157 cotovelos, encontraram os critérios de inclusão e exclusão, sendo que em 16 estudos foram utilizados o autoenxerto (semitendíneo, tensor da fáscia lata, palmar longo, plantar, extensor dos dedos do pé, quadriceps, lacertus fibrosus e tríceps) e em oito, o aloenxerto (tendão calcâneo, semitendíneo, grácil e tibial anterior). Doze utilizaram a fixação do enxerto no tendão/ ventre muscular por entrelaçamento, com técnicas similares ao Pulvertaft e 10 com fixação “onlay” com sobreposição do tendão em camadas. Um estudo utilizou as duas técnicas simultaneamente e um estudo, técnica “boca a boca”. Do total, 22 estudos foram classificados como nível quatro de evidência e dois como nível três. Nove casos selecionados foram relatos de um único caso (entre eles, uma artigo da Revista Brasileira de Ortopedia de Eijnsman B. et al).

Historicamente a literatura ortopédica sustenta que os autoenxertos, comparados com os aloenxertos seriam mais resistentes no que diz respeito à re-ruptura. Os dados encontrados nessa revisão não apontaram diferenças. De uma geral, a taxa de complicações foi duas vezes maior no grupo do autoenxerto (especialmente relacionadas aos sintomas locais da área doadora do enxerto)

A técnica cirúrgica em geral, encontrada cursou com a identificação do nervo cutâneo do antebraço, proteção do nervo interósseo posterior porém sem concordância sobre qual posição o cotovelo deve ser mantido durante a sutura do enxerto (grau de flexão).

As técnicas predominantes de fixação do enxerto encontradas na literatura foram tanto as de entrelaçamento ou as técnicas de cobertura (“onlay”) e muito menos frequentes as técnicas de sutura “boca a boca”. A comparação do arco de movimento, força muscular bem como resultados informados pelo próprio paciente com questionário de auto-avaliação e complicações demonstraram não haver diferença estatística quando comparada os grupos de diferentes enxertos ou os grupos de fixação. Pelo que reportado pelos autores, levando em consideração a similaridade de resultados, atualmente, a técnica de fixação deve ser escolhida em função da experiência do cirurgião.

Embora extremamente útil e importante para tomada de decisão frente às lesões crônicas do bíceps distal,a revisão teve muitas limitações, especialmente pouco número de casos por estudo, heterogenicidade no escore escolhido para avaliação, técnicas diferentes entre cirurgiões e informações imprecisas sobre arco de movimento pré e pós operatório nos artigos selecionados).